Eu sempre
amei fotos, acho que é um jeito único de guardar memórias. Quando eu era
pequetita chorava para ser a musa das lentes da minha mãe e isso rendeu alguns
mil álbuns da minha infância. Na adolescência, com a era digital, eram jogadas
tardes foras para poses de fotos para postar no Orkut e no fotolog (quem nunca
né?). Talvez, por isso, hoje eu não goste de tirar fotos, mas independente de
ter cansado minha beleza na infância e adolescência, acho que se perdeu um
pouco o objetivo de guardar a memória e criou-se um novo: moldar uma memória.
Vejo meus amigos e conhecidos, tirando pelo menos três fotos antes de escolher
uma, pois precisam estar “bem na foto”. Isso é uma coisa que me cansa quando
penso em tirar uma foto: a obrigação de sair “bem na foto”. A partir dessa
obrigação você também precisa saber minimamente captar esse “bem na foto” de
cada pessoa que te pede uma foto, é como se numa mágica você mudasse a pessoa
com apenas um clique.
Sempre achei isso impossível, nunca imaginei que pudesse forjar uma memória
através de uma foto, até que um dia observei por algumas horas um amigo
editando vídeos da nossa viagem e algumas fotos que ele tirou. Sim, ele foi
Deus nesse dia.
Pelo fato de estarmos juntos todos os momentos da viagem eu sabia exatamente
cada frame do vídeo e lembrava cada foto gravada em seus milhões de cliques. Os
momentos monótonos de baforadas de cigarros, busca por mapas e ruas, virarem
aventuras divertidas, minhas caretas para ele parar de gravar ou tirar fotos
viraram caretas espontâneas de felicidade para a câmara, inclusive, quando eu o
mandava a merda em protesto para interromper os intermináveis cliques se
encaixava de um jeito cômico em seu vídeo. Logo em seguida, resolvi olhar
minhas fotos e elas não eram belas, algumas borradas até, mas todas guardam os
MEUS momentos da viagem, talvez se alguém parar para olhar até ache elas sem
graça, mas são minhas memórias, pura e simples, sem retoques divinos.
Acho que essa busca pela criação de momentos perfeitos foi incentivada pela
necessidade que temos de dividir momentos nas redes sociais, parece que
precisamos provar diariamente para nós mesmos que somos felizes através das
nossas fotos e por isso precisamos SEMPRE sair “bem na foto”.